segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Nem desconfies

Foto:Kiko Neto

Não duvides de mim.
Limita-me a este olhar tapado de vidro,
À marreca que não consigo curar,
Ao andar metálico e militar do meu corpo estreito.

À voz grave e quase muda.
A encolerizada criatura,
Que de pensamento deserto,
Retorna no crepúsculo à sua gruta.

Serei correspondência perdida
Por enjeito do destinatário.
De mau trato e nocivo,
Impróprio para mostruário.

Não desconfies que sou mais que isto.
Se ainda não conseguiste adivinhar que não,
Prefiro que nem desconfies,
Que atestes que sou assim.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pôr-da-vida


Como o pôr-do-sol:
Nunca existirão dois iguais,
Cada um com o seu princípio e o seu fim,
Com o tempo contado ao segundo.

A milhões já assistiu o mar,
Não houve um que não fosse especial.
Todos terminaram, todos terminarão.

Uns com menos nuvens, outros com mais.
A uns já assistimos com pássaros no horizonte,
Outros com brava trovoada.
As circunstâncias foram diversas,
Cada um inspirou com a sua cor,
Aquele que nascia no dia seguinte.

Ouve as histórias que te contam
Dos mais belos e coloridos pores-do-sol,
Um dia vais ser tu a pintar o céu
Com as cores daquilo que viste e foste,
E contigo o sol irá, como sempre fez, pôr-se.


P.S.: Vi dezenas de imagens de pores-do-sol e não encontrei o perfeito. Talvez a verdade só a encontremos no fim. Como no filme "O Último Samurai".. "Perfect!.. They are all perfect!"

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Lancelot

Numa das muitas vezes em que tinha o cuidado de não me mexer para que ele pudesse dormir na posição que escolhia:


Nunca precisou de ter um bom carro para ser feliz, nunca desejou mal ao próximo, não passou por cima de ninguém, não discriminou, não deixou morrer à fome, não se vangloriou, não matou por prazer ou para mostrar supremacia sobre os demais. Foi-me maior exemplo que muitos a quem chamamos humanos.

Despertou-me os sentimentos mais puros... Amar sem querer nada em troca, e sem troca, saber que nunca poderia ter recebido mais.

Não fui só eu que tomei conta dele. Ele também tomou conta de mim...

O fim não houve. Como poderia caber na minha mão algo que me transborda a alma?

Foi na minha mão que adormeceu, longe do fim que um dia partilharemos.