sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Aqui e agora...

Quem já viu o filme “O estranho caso de Benjamin Button”, lembrar-se-à por certo de quando o capitão Mike, de quem durante o filme não estamos habituados a ouvir reflexões filosóficas, numa das suas bebedeiras, nos espanta com um discurso onde a dada altura refere um pequeno pássaro – o beija-flor:


"O beija-flor não é apenas um pássaro qualquer, o seu coração bate 1200 vezes por minuto, bate as suas asas 80 vezes por segundo, se parassem as suas asas de bater, estaria morto em menos de 10 segundos. Não é um pássaro vulgar, é um milagre."


Muito do que hoje li, sentado na cadeira do meu quarto no Hotel, me fez pensar no tempo (que não pára) e em como tudo o que existe é resultado da mais mínima e imensurável probabilidade.

Existia provavelmente UMA hipótese em milhões de biliões de triliões de ziliões de ziliões de ziliões de estarmos hoje aqui, vivos. Possivelmente essa hipótese era ainda muito menor… Era mesmo muito menor!!!

O que é que vais fazer com esta oportunidade? Amar ou odiar? Lamentar-te ou agradecer e sentir cada segundo?

Olhem para tudo como se de um milagre se tratasse. Porque o é. Cada um de nós.

Cada objecto, por mais insignificante que o consideremos, tem na sua origem o início do Universo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Porto (sem) sentido

Ruas escuras, semáforos desligados, restaurantes vazios, sombrios, com todas as mesas postas e sem ninguém a servir, sacos pretos do lixo na rua com gatos (tantos gatos (?!)) de volta deles, a rasgá-los e puxar de lá de dentro restos de comida, cidade que agora me faz lembrar Londres, quando lá cheguei, à noite: escura, com lixo. Lojas de aspecto antigo, com um pé direito alto, de interior invulgarmente moderno e um exterior clássico e sujo.

Dou com a Casa da Música. Desperta-me alento reconhecer uma marca da civilização como a conheço! Mesmo no topo, a um canto, existe um quarto envidraçado, forrado a azulejo, com teto inclinado. Depois do que já vi, parece-me totalmente enquadrado na harmonia desconexa que presencio.

A minha procura por um simples lugar para tomar uma refeição, tornou-se numa descoberta que ultrapassa a minha compreensão. Sinto-me totalmente deslocado. Sinto que as coisas têm uma ordem diferente, em cada canto encontro um enigma que me surpreende, e esquina atrás de esquina sou vencido.

Na minha frente uma rotunda com um jardim pelo meio. Olho em volta, não detecto nada divergente do que até aqui tinha visto. Pondero voltar para trás e render-me à Telepizza que tinha perto do Hotel. Contorno a rotunda. Queria enfrentar a última provocação que a noite me oferecia: o jardim. Um semáforo obriga-me a parar. Olho para trás e vejo o que parece ser um Centro Comercial! Civilização!... Civilização… Jardim…

Estou absorto nesta noite de descobertas, de sentimentos que ainda não tinha experimentado. Sem oferecer resistência aos meus pensamentos, não me consigo sentir contente por ter encontrado um Centro Comercial. Queria continuar a mergulhar mais fundo, virar mais uma esquina deste labirinto. Mas é hora de cumprir com a missão que me tirou do quarto, o jantar.

Aproximo-me mas a sensação de desconfiança não desaparece. Não me parece correcto terminar esta jornada fora de uma das churrascarias por que passei. Onde o empregado ia ser macabro, onde ia desconfiar a todo o segundo da comida que tinha no prato, onde o tempo de espera pelo meu prato pareceria uma eternidade e o silêncio arrepiante. Talvez num outro dia… talvez acompanhado.

Entro no Centro Comercial, subo umas escadas rolantes. Encontro uma zona central onde, espreitando lá para baixo, vejo uma zona de restaurantes. O estranho é que os sinais que tenho encontrado apontam a zona de restauração para o piso superior – e eu a vê-la lá em baixo. Desço uma escadaria. Parece-me tudo perfeito. Sinto-me finalmente abrigado da cidade fantasma que me aguarda para o regresso. Esta área tem como centro uma espécie de piscina elevada, com o fundo clássico de azulejo azul água com uma forma poligonal ao meio em tons de castanho. Aqui consigo ver uma coisa que vinha sendo rara… pessoas!

Ao acabar de descer as escadas encontro, nos pratos de quem janta, finalmente, cor. Começo a ronda aos restaurantes: a escolha. Vazios?... Volto a não encontrar quem me sirva, os buffets, embora encetados, têm aspecto seco e passado. Ataca-me o sentimento de que me pensei ter albergado. Também aqui!...

Volto a subir as escadas. Por descargo de consciência, sigo a direcção dos sinais que apontavam a área de restauração para o último piso. Vou dar a uma área, quase normal, de restaurantes! Pelo menos aqui os restaurantes são os da minha zona de conforto, os que estou habituado a ver. Rondo a área aliviado por saber que vou conseguir, finalmente e em breve, jantar. Misturado, a um canto, está a zona de cinemas. (Adivinhem?) Escura. A fazer lembrar os cinemas do Monumental, em Lisboa (Ah, Lisboa!... Minha terra! Saudades do teu Castelo, das tuas ruas íngremes e estreitas, que a noite faz escuras mas nunca, nunca, estranhas ao meu coração. Pego em Amália para, noutro contexto, te dizer: “Ai, que lindeza tamanha, meu chão, meu monte, meu vale, de folhas, flores, frutos de oiro”).

Optei por uma daquelas casas que serve massas, onde escolhemos os ingredientes. Inacreditável, ou (já) não, tive que esperar que aparecesse alguém de lá de dentro para me servir. Mais uma vez os ingredientes, embora todos familiares, não me mostram a frescura a que estou habituado. De qualquer modo, estava completamente fora de questão procurar alternativa. Pouco quente… e sobre o sabor demito-me de fazer uma avaliação. Nada nesta noite poderia ser natural.

Tomo o caminho de regresso. Tudo tão vazio… Edifícios enormes em silêncio. Cá fora, encontro tudo como o deixei. Volto ao jardim. Desta vez não o contorno. Atravesso-o. Ou estou mais integrado ou distraído. O receio que uma situação destas habitualmente provoca, aqui é anulado por junto comigo encontrar uma rapariga que também o faz, um rapaz de passa de bicicleta, um outro que faz flexões num banco de jardim e duas senhoras que parecem de retorno a casa.

Barras de ferro coladas ao chão, no meio do passeio? Estranhar para quê?

Não te compreendo, Porto. Ainda não. Mais de 1000 números de porta ultrapassados à ida, e mais de 1000 números repetidos à volta, não foram o suficiente. No caminho vejo uma publicidade que tapa um prédio em obras: “Keep walking, Johnnie Walker”. Foi isso que fiz até ao meu quarto. I just kept walking.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Planeta perdido


Para alguma coisa serve o papel e a caneta que se leva para as reuniões...