quarta-feira, 30 de setembro de 2009

One breath at Paris


E assim, por 15 segundos, estive em Paris.
Sozinho, sentado junto ao rio, onde nada mais existia para além do céu pouco estrelado e o som da corrente.

(Imagem que recebi num e-mail no trabalho, e que por momentos me levou para fora dali)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Nem desconfies

Foto:Kiko Neto

Não duvides de mim.
Limita-me a este olhar tapado de vidro,
À marreca que não consigo curar,
Ao andar metálico e militar do meu corpo estreito.

À voz grave e quase muda.
A encolerizada criatura,
Que de pensamento deserto,
Retorna no crepúsculo à sua gruta.

Serei correspondência perdida
Por enjeito do destinatário.
De mau trato e nocivo,
Impróprio para mostruário.

Não desconfies que sou mais que isto.
Se ainda não conseguiste adivinhar que não,
Prefiro que nem desconfies,
Que atestes que sou assim.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pôr-da-vida


Como o pôr-do-sol:
Nunca existirão dois iguais,
Cada um com o seu princípio e o seu fim,
Com o tempo contado ao segundo.

A milhões já assistiu o mar,
Não houve um que não fosse especial.
Todos terminaram, todos terminarão.

Uns com menos nuvens, outros com mais.
A uns já assistimos com pássaros no horizonte,
Outros com brava trovoada.
As circunstâncias foram diversas,
Cada um inspirou com a sua cor,
Aquele que nascia no dia seguinte.

Ouve as histórias que te contam
Dos mais belos e coloridos pores-do-sol,
Um dia vais ser tu a pintar o céu
Com as cores daquilo que viste e foste,
E contigo o sol irá, como sempre fez, pôr-se.


P.S.: Vi dezenas de imagens de pores-do-sol e não encontrei o perfeito. Talvez a verdade só a encontremos no fim. Como no filme "O Último Samurai".. "Perfect!.. They are all perfect!"

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Lancelot

Numa das muitas vezes em que tinha o cuidado de não me mexer para que ele pudesse dormir na posição que escolhia:


Nunca precisou de ter um bom carro para ser feliz, nunca desejou mal ao próximo, não passou por cima de ninguém, não discriminou, não deixou morrer à fome, não se vangloriou, não matou por prazer ou para mostrar supremacia sobre os demais. Foi-me maior exemplo que muitos a quem chamamos humanos.

Despertou-me os sentimentos mais puros... Amar sem querer nada em troca, e sem troca, saber que nunca poderia ter recebido mais.

Não fui só eu que tomei conta dele. Ele também tomou conta de mim...

O fim não houve. Como poderia caber na minha mão algo que me transborda a alma?

Foi na minha mão que adormeceu, longe do fim que um dia partilharemos.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Há 5 anos...

Há cinco anos atrás, escrevia eu no dia da morte de Carlos Paredes.

Vejo-o como alguém que, com a sua guitarra, nos coloca sobre o mais belo miradouro da cidade e nos faz ver reflectido no rio os maiores feitos dos nossos antepassados.

Vejo também esta música, especialmente, como um expor em som da nossa vulnerabilidade e complexidade.

Lembro-me de me perguntar a primeira vez que a ouvi: “Mas como é que ele sabe que eu sou isto?” É como se tocasse na guitarra a música do nosso código genético, o código genético Português.

Basta a primeira nota para percebermos que, o que se segue, nos vai tocar para sempre:



Post de 23 de Julho de 2004, "O MESTRE"

O MESTRE toca o rio Tejo, as ruas íngremes e estreitas, o castelo, a calçada portuguesa. O Mestre toca a nossa língua, o nosso fado, intensidade, tristeza, romantismo, sensibilidade. O Mestre toca-nos. Descreve a nossa essência com as notas por ele descobertas. Emociona-nos, revela-nos.

O Mestre toca o pássaro que plana no céu, livre de esforço, e que é com ele um só. Carlos Paredes consegue ser esse pássaro, com a sua guitarra. E faz-nos olhar assombrados para o céu.. perante tamanha genialidade.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

The Instant Before


Foi no tempo de um piscar de olhos.
Quando os abri, tinha 27...

Estive a ver fotos antigas.
É engraçado lembrarmo-nos das pequenas coisas como brinquedos, mobília, roupa... relembrar as sensações de os ver e tocar.

É como se tudo não tivesse mudado assim tanto. Afinal de contas, quanto se pode mudar no tempo de um piscar de olhos?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Amor É

Sara, esse amor dói. É tão intenso, tão clarividente, tão puro, tão maior do que tudo, que faz de nós calçada pisada, repisada, angustiada e agastada. E se nos dessem a possibilidade de não sentir essa dor? Antes mortos e já!!! Antes gemer à tortura lenta da sua lâmina que salvo pela negação do que é a minha própria existência! Que venha a dor! Que aperte e torça e ignore os meus gritos de clemência! Que faça parecer a pessoa amada ainda mais amável para que o sofrimento possa simplesmente tornar-se insuportável ao coração e se torne na dor física aguda e surpreendentemente real. O amor aí mostra-se real. Existe de facto, com prova física!
Essa dor é tão bela que nos pode fazer seus prisioneiros de livre vontade… Mas prisioneiros não poderemos ver o céu, a lua, o sol, o mar… tudo o que está à nossa frente, tudo aquilo que podemos amar.

O Amor mostrou-me outro caminho. Que não é tanto e tão pouco.

Todos os dias me abre uma nova brecha por onde me premeia com um pouco mais da verdade, de Amor.

O Amor pede um constante emanar. Dar, dar, dar! Por vezes ficar triste ou até magoado… arrasado. Enquanto cair por ter amado, não faltaram forças para me levantar. Dar, dar, continuar a dar! Dar em dobro do que alguma vez sonhamos vir a receber e ficar grato pelo mais breve sorriso quando esse é sincero.

Há tanto sítio para onde o podemos direccionar e tanto de onde o podemos receber.

Ele vem de uma mãe que dedica a vida a um filho, de um olhar que desconhecíamos mas que não nos é estranho, vem do abraço apertado dos braços pequenos e autênticos de uma criança, do cão que de cauda a abanar e língua de fora nos cumprimenta da primeira vez que nos conhece, dos sítios mágicos da Natureza que nos fazem tão pequeninos, das construções do Homem que nos arrebatam…

O Amor supera o sonho. É a única imagem que vamos recordar antes do nosso último fechar de olhos. Não vai ser o jeito que tínhamos para um desporto, o dinheiro que ganhámos numa certa profissão, a razão e a forma como a provámos numa determinada discussão ou aquelas preocupações que nos pesam em alguns dias. Vão ser apenas rostos, e tudo aquilo que nos deram e fizeram sentir pela sua simples existência e o quão inexcedivelmente valiosa se tornou esta breve existência pelo privilégio que foi amá-los a todos. No final, foi a única coisa que existiu - Amor.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

I-walk-by-you-today-I-always-look-away...




I Coríntios 13, 2

E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse
todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse
os montes, e não tivesse caridade, nada seria.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Aqui e agora...

Quem já viu o filme “O estranho caso de Benjamin Button”, lembrar-se-à por certo de quando o capitão Mike, de quem durante o filme não estamos habituados a ouvir reflexões filosóficas, numa das suas bebedeiras, nos espanta com um discurso onde a dada altura refere um pequeno pássaro – o beija-flor:


"O beija-flor não é apenas um pássaro qualquer, o seu coração bate 1200 vezes por minuto, bate as suas asas 80 vezes por segundo, se parassem as suas asas de bater, estaria morto em menos de 10 segundos. Não é um pássaro vulgar, é um milagre."


Muito do que hoje li, sentado na cadeira do meu quarto no Hotel, me fez pensar no tempo (que não pára) e em como tudo o que existe é resultado da mais mínima e imensurável probabilidade.

Existia provavelmente UMA hipótese em milhões de biliões de triliões de ziliões de ziliões de ziliões de estarmos hoje aqui, vivos. Possivelmente essa hipótese era ainda muito menor… Era mesmo muito menor!!!

O que é que vais fazer com esta oportunidade? Amar ou odiar? Lamentar-te ou agradecer e sentir cada segundo?

Olhem para tudo como se de um milagre se tratasse. Porque o é. Cada um de nós.

Cada objecto, por mais insignificante que o consideremos, tem na sua origem o início do Universo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Porto (sem) sentido

Ruas escuras, semáforos desligados, restaurantes vazios, sombrios, com todas as mesas postas e sem ninguém a servir, sacos pretos do lixo na rua com gatos (tantos gatos (?!)) de volta deles, a rasgá-los e puxar de lá de dentro restos de comida, cidade que agora me faz lembrar Londres, quando lá cheguei, à noite: escura, com lixo. Lojas de aspecto antigo, com um pé direito alto, de interior invulgarmente moderno e um exterior clássico e sujo.

Dou com a Casa da Música. Desperta-me alento reconhecer uma marca da civilização como a conheço! Mesmo no topo, a um canto, existe um quarto envidraçado, forrado a azulejo, com teto inclinado. Depois do que já vi, parece-me totalmente enquadrado na harmonia desconexa que presencio.

A minha procura por um simples lugar para tomar uma refeição, tornou-se numa descoberta que ultrapassa a minha compreensão. Sinto-me totalmente deslocado. Sinto que as coisas têm uma ordem diferente, em cada canto encontro um enigma que me surpreende, e esquina atrás de esquina sou vencido.

Na minha frente uma rotunda com um jardim pelo meio. Olho em volta, não detecto nada divergente do que até aqui tinha visto. Pondero voltar para trás e render-me à Telepizza que tinha perto do Hotel. Contorno a rotunda. Queria enfrentar a última provocação que a noite me oferecia: o jardim. Um semáforo obriga-me a parar. Olho para trás e vejo o que parece ser um Centro Comercial! Civilização!... Civilização… Jardim…

Estou absorto nesta noite de descobertas, de sentimentos que ainda não tinha experimentado. Sem oferecer resistência aos meus pensamentos, não me consigo sentir contente por ter encontrado um Centro Comercial. Queria continuar a mergulhar mais fundo, virar mais uma esquina deste labirinto. Mas é hora de cumprir com a missão que me tirou do quarto, o jantar.

Aproximo-me mas a sensação de desconfiança não desaparece. Não me parece correcto terminar esta jornada fora de uma das churrascarias por que passei. Onde o empregado ia ser macabro, onde ia desconfiar a todo o segundo da comida que tinha no prato, onde o tempo de espera pelo meu prato pareceria uma eternidade e o silêncio arrepiante. Talvez num outro dia… talvez acompanhado.

Entro no Centro Comercial, subo umas escadas rolantes. Encontro uma zona central onde, espreitando lá para baixo, vejo uma zona de restaurantes. O estranho é que os sinais que tenho encontrado apontam a zona de restauração para o piso superior – e eu a vê-la lá em baixo. Desço uma escadaria. Parece-me tudo perfeito. Sinto-me finalmente abrigado da cidade fantasma que me aguarda para o regresso. Esta área tem como centro uma espécie de piscina elevada, com o fundo clássico de azulejo azul água com uma forma poligonal ao meio em tons de castanho. Aqui consigo ver uma coisa que vinha sendo rara… pessoas!

Ao acabar de descer as escadas encontro, nos pratos de quem janta, finalmente, cor. Começo a ronda aos restaurantes: a escolha. Vazios?... Volto a não encontrar quem me sirva, os buffets, embora encetados, têm aspecto seco e passado. Ataca-me o sentimento de que me pensei ter albergado. Também aqui!...

Volto a subir as escadas. Por descargo de consciência, sigo a direcção dos sinais que apontavam a área de restauração para o último piso. Vou dar a uma área, quase normal, de restaurantes! Pelo menos aqui os restaurantes são os da minha zona de conforto, os que estou habituado a ver. Rondo a área aliviado por saber que vou conseguir, finalmente e em breve, jantar. Misturado, a um canto, está a zona de cinemas. (Adivinhem?) Escura. A fazer lembrar os cinemas do Monumental, em Lisboa (Ah, Lisboa!... Minha terra! Saudades do teu Castelo, das tuas ruas íngremes e estreitas, que a noite faz escuras mas nunca, nunca, estranhas ao meu coração. Pego em Amália para, noutro contexto, te dizer: “Ai, que lindeza tamanha, meu chão, meu monte, meu vale, de folhas, flores, frutos de oiro”).

Optei por uma daquelas casas que serve massas, onde escolhemos os ingredientes. Inacreditável, ou (já) não, tive que esperar que aparecesse alguém de lá de dentro para me servir. Mais uma vez os ingredientes, embora todos familiares, não me mostram a frescura a que estou habituado. De qualquer modo, estava completamente fora de questão procurar alternativa. Pouco quente… e sobre o sabor demito-me de fazer uma avaliação. Nada nesta noite poderia ser natural.

Tomo o caminho de regresso. Tudo tão vazio… Edifícios enormes em silêncio. Cá fora, encontro tudo como o deixei. Volto ao jardim. Desta vez não o contorno. Atravesso-o. Ou estou mais integrado ou distraído. O receio que uma situação destas habitualmente provoca, aqui é anulado por junto comigo encontrar uma rapariga que também o faz, um rapaz de passa de bicicleta, um outro que faz flexões num banco de jardim e duas senhoras que parecem de retorno a casa.

Barras de ferro coladas ao chão, no meio do passeio? Estranhar para quê?

Não te compreendo, Porto. Ainda não. Mais de 1000 números de porta ultrapassados à ida, e mais de 1000 números repetidos à volta, não foram o suficiente. No caminho vejo uma publicidade que tapa um prédio em obras: “Keep walking, Johnnie Walker”. Foi isso que fiz até ao meu quarto. I just kept walking.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Planeta perdido


Para alguma coisa serve o papel e a caneta que se leva para as reuniões...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Não há estrelas no céu

Esta semana, numa viagem de manhã para o trabalho, ouvi a ideia mais romântica dos últimos tempos, vinda ainda por cima de um cientista.

Ao que parece, um cientista americano de que não fixei o nome, propôs a criação de uma reserva mundial de céu estrelado. Isto é, guardar um local no mundo onde a poluição no céu seja de tal modo reduzida que consigamos ver o céu estrelado em toda a sua plenitude.

Nunca me vou esquecer da sensação que tive ao ouvir esta notícia.

São formas de começar a manhã que não se esquecem.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Dica da semana

Quando comprarem um despertador novo, tentem comprar um que não tenha tanta luz que pareça que é de dia dentro do quarto!
Ok que se precisar de me levantar a meio da noite já não preciso de acender a luz, mas custa um bocadinho a adormecer!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A noite diferente que é igual às outras todas

Nunca liguei à passagem de ano. Tem em mim o efeito contrario do que à maioria das pessoas. Entristece-me ver tanta alegria para a qual não encontro justificação. Sinto pressão para que tenha que me divertir.

Poderão por aí perceber que os pontos altos da minha passagem de ano foram:

- Uma senhora que se lembra de falar ao telemóvel, abrir o porta-bagagens e segurar o carrinho das compras que estava numa descida acentuada, tudo ao mesmo tempo (?). Resultado: Carrinho das compras a descer a grande velocidade rampa abaixo (teve sorte que ele desceu direitinho e houve quem o apanhasse cá em baixo). Interromper a chamada para tentar apanhar o carrinho? Não! Tenta-se apanhar o carrinho mas com o telemovel encostado à orelha.. dá muito mais estilo.
- Noitada de pictionary.
- Vizinhos a tocar à porta com um copinho de vinho para brindar ao novo ano. “Bom ano!” Disseram os 3 em coro… E depois ali ficaram à espera não sei do quê. Lá agradeci, desejei também um bom ano, mas lá estavam eles, parados a sorrir. Tive que reforçar os agradecimentos e mesmo assim estava complicado de desbloquear aqueles cérebros!